Dois costumes do interior eu aprendi desde cedo: independente da idade, irmãos mais velhos cuidam dos irmãos mais novos e o que a sua mãe fala, é verdade, não questione, apenas aprenda. Pois bem, depois que meu irmão mais novo nasceu, ganhei uma nova tarefa: cuidar dele. Então os meus 7 anos foram registrados pelo choro do meu irmão e pelas vezes que ele fez xixi em mim. Em um dia que eu tive liberdade, fui brincar com o meu outro irmão, o Marcelo. Eu peguei uma faca de mesa e comecei a fingir que ia machucar ele. Quando a minha mãe viu a cena, grito de onde estava: "Menina, deixa de brincadeira besta com faca! Senão o cão atenta e tu fura teu irmão". Fiquei com aquilo na cabeça. "o cão atenta e tu fura teu irmão... ","o cão atenta e tu fura teu irmão... ", "o cão atenta e tu fura...".
Um certo dia a minha mãe mandou eu ir jogar as fraudas sujas do meu irmão no lixo. Na época, não tinha coleta de lixo de casa em casa, tínhamos que subir o alto da Caixa d'Água e colocar as sacolas dentro de um tambor. Lá vai a Marcela subindo o alto com um saco cheio de caca de neném. Quando eu cheguei perto do orelhão da Lêda, a sacola se rompeu, as fraudas saíram rolando rua abaixo e todo mundo começou a olhar para mim e rir. Fiquei muito triste e envergonhada. Larguei tudo e voltei para casa chorando. Entrei, não falei com ninguém, passei na cozinha e peguei uma faca. Fui para o quartinhos dos fundos. Sentei numa cadeirinha e coloquei a ponta da faca na palma da minha mão, como se eu fosse fura-la. Depois de algumas horas, a minha mãe veio me procurar. "Menina, o que é que eu tá fazendo aí sentada com essa ponta de faca na tua mão?". "Estou esperando o cão vir me atentar".
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