quinta-feira, 30 de novembro de 2017

3 crianças.

Quem me conhece sabe que eu amo história da ciência. Para ser mais específica, eu amo a história dos cientistas. Desde os primeiros conceitos matemáticos que eu aprendi, eu queria entender como uma pessoa chegou àquela conclusão. Ainda me é muito fresco na memória quando abri o livro da 8ª série e vi a foto do Isaac Newton. Assim  começou a minha saga lendo sobre a vida dele, do Einstein, do Galileu, do Báskara e assim por diante. Mesmo antes disso eu já adorava ouvir histórias de super heróis do mundo real. Até hoje 99% dos filmes que eu assisto são baseados em histórias reais. Com o passar dos anos eu fui ficando cada vez mais ligada a todas essas histórias que eu lia. Elas construíram sonhos em mim que eu nunca imaginei poder realizar. Mas se tem uma coisa que o universo gosta de conspirar é a favor de um sonho inocente e verdadeiro. 

Em 2014, eu fui em Nova Jersey visitar uma antena que está relacionada com a descoberta da radiação cósmica de background. Longa história. Eu descobri essa antena ainda adolescente em uma das minhas leituras sobre história da ciência. Essa história chamou a atenção do Guilherme e desde então ele fala de mim para Deus e o mundo. O que me resta é receber mensagens com "Ah, o Guilherme falou muito de você", "Ah, eu gostei muito da tua história", "Ah, você é genial". Aí lá vai eu tentar explicar que o Guilherme talvez apenas goste de antenas também. 

Um dia ele me ligou e falou "Você conhece o Profº Sérgio Mascarenhas ?". Bem, o nome do auditório do Instituto de Física da USP se chama Sérgio Mascarenhas.  Todos os dias eu passava lá e ficava olhando esse nome. "O que esse 'cara' deve ter feito para merecer uma honra tão grande?". Sendo assim o nome me era familiar mas não tinha noção ainda de toda a história. O Guilherme desligou e eu corri para ler tudo sobre o "Sérgio Mascarenhas". Quase que o meu coração sai pela boca. Ele era um daqueles heróis que eu amo ler sobre, mas ele era deste século e estava vivo! Guilherme nos colocou em contato. Depois de alguns minutos o professor me ligou. Eu tentei ficar o mais firme possível e tentar não gritar, dizer que já era fã, que ia criar página no facebook para ele. Foi difícil. Depois que a ligação acabou eu fui para o quarto chorar. Nunca imaginei que a vida ia me dá a honra de falar com uma pessoa daquelas. 

Depois de emails e ligações (com direito a choro quando elas acabavam, of couse), eu finalmente encontrei o Professor Sérgio Mascarenhas pessoalmente. Ele já se mostrou teimoso quando eu disse que estava na frente da casa dele e ele disse que eu  estava no lugar errado. Depois que entrei na casa dele, aí começou o TEDTalks: pau-brasil, França, violino, arte, ditadura, história, crianças, nanotecnologia, ossos de Hiroshima, características de um bom marido, esporulação e origem das palavras. Na minha vez de falar as palavras mal saiam porque eu estava com medo de falar muito alto e acordar daquele sonho. Imagina. Uma pessoa que gosta de falar com outra que gosta de perguntar. Era assunto o tempo inteiro. 9 horas depois ele ficou cansado. 

No dia seguinte eu pedi a ele que tirássemos uma foto e a única exigência que ele me fez foi que a foto fosse tirada perto da pintura de uma criança pintada por Cândido Portinari. Então estávamos ali três crianças: eu, a criança do Portinari e o Profº Sérgio Mascarenhas, o senhor de 89 anos mais jovem que todos nós.

sábado, 12 de setembro de 2015

Sonhar IV: Preparação

"Dizem que os massai morrem quando são colocados na prisão, não imagino que essa situação um dia possa mudar", é a primeira frase do filme A massai branca (The white massai), filme baseado na história real de uma escritora suíça que largou tudo que tinha na Europa por uma paixão,um guerreiro massai, e foi morar com ele no deserto. O filme é maravilhoso, e conta justamente tudo que ela passou morando em um deserto no Quênia. Lembro que quando eu era adolescente, uma amiga me falou: "Marcela, achei um filme a tua cara, tu tem que assistir". Assiti. De fato, eu tinha que assitir. Eu fiquei muito encantada com as cores e as vestes do povo massai. Mais encantada ainda fiquei com a África e suas tradições milenares, seus povos ricos de culturas diversas e muito, muito curiosa a respeito do que aconteceu de fato com esse casal. Nascia alí uma paixão bem escondidinha por aquela história. Passei dias pesquisando sobre os massai, sobre a história real da escritora suíça e o que acontecera com os envolvidos na vida real. Fiquei fascinada. 

2015, São Paulo. Eu e uma amiga estávamos descendo pela escada rolante do hotel onde estávamos participando de um evento. Olho para o lugar que queríamos ir e vi um ponto de luz. Uma pessoa que brilhava estranhamente e não entendi porque. Nos aproximamos da menina que lia algo muito concentrada. Nos apresentamos, trocamos sorrisos, e ela nos fala gentilmente: Sou do Quênia, uma das finalistas da premiação. Era nossa mais nova amiga-inimiga. Passamos dois dias nos encontrando por lá, falando de trabalho, cidades, projetos.

No final desse evento, teve uma premiação. No entanto, antes, teve um ensaio. Quando entramos no auditório, de longe vi a moça do Quênia vestindo uma tecido lindo, vermelho e preto, que se fazia de túnica em volta do seu corpo pequeno mas ainda muito brilhante. Fomos falar com ela e elogiar a vestimenta, então ela com o mesmo sorriso acolhedor falou: é um tecido massai. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sentei, pensei, lembrei. E muito emocionada pedi a ela que me deixasse vestir aquele tecido apenas para tirar uma foto e toca-lo com mais calma. Quando o vesti, o toquei, eu senti algo muito diferente do que tinha sentido a vida toda. Eu estava com tecido massai feito numa tribo no Quênia e parecia que eu estava esperando aquele dia chegar a muito tempo, sem saber, mas eu esperava. 

Horas depois, veio a premiação oficial. A moça do Quênia, em seu vestido massai, chorava agradecendo o prêmio, e eu chorava pela oportunidade de ver tudo aquilo acontecendo na minha frente, quase em câmera lenta. 
No fim, inesperadamente, eu e minha amiga recebemos a notícia que teríamos um prêmio também e que vamos para Nairobi, no Quênia. A minha reação foi de espanto. A surpresa nos fez vibrar por horas. Foi aí que eu entendi, que aquela paixãozinha que eu senti quando adolescente era apenas a preparação para um momento maravilhoso que acontecerá na minha vida. Estava tudo certo, tudo me esperando e todas as coisas que eu passei até hoje estavam sempre me preparando para fortes emoções. 

Guardei o olhar daquela moça e seu sorriso me vem a mente toda vez que olho os brincos que ela me deu da mesma cor do tecido que ela estava vestindo. A única exigência que ela fez foi que eu usasse os brincos quando for encontra-la no Quênia. E quero muito ir para finalmente dar vazão a uma paixão que sempre esteve guardadinha no fundo do meu coração. 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Lar XIV

Sem dúvida, o meu aniversário inesquecível foi o de 9 anos. Não por causa de festa ou presentes, mas por causa de uma situação um tanto... dolorida. 
Quando eu era bem pequena(sim, já fui menor do que sou hoje), era costume toda noite ir brincar na rua - no Alto da Caixa D'água - com os meus amigos. Quando o assunto era médico, todos falavam a mesma coisa: "Só não toma bezetacil" (benzetacil, ne verdade). Fiquei com aquilo na cabeça. Um dia a minha mãe me levou a uma médica e depois de ela me examinar, ela me pôs no colo e disse: "Olha, bebê, você vai tomar uma benzetacil, vai doer um pouquinho só, viu?" Eu inocentemente acreditei, ignorando os conselhos dados pelos meus amiguinhos. Lá fui para a sala do abate. Quando a enfermeira aplicou a injeção, eu dei um grito tão alto que quando eu saí da sala, TODOS estavam olhando para a sala de onde o barulho viera e os olhares foram me acompanhando até eu sair. E eu aos prantos. 
Anos depois, eu estava com a garganta inflamadíssima. Era 26 de fevereiro de 2010. Aí a minha mãe me levou ao médico novamente. Chegando lá, mesmo procedimento e inclusive a mesma prescrição: benzetacil. Mas dessa vez eu não vacilei. No posto de Aratuba antigamente, o médico dava a receita e os pacientes iam buscar o remédio na farmácia que ficava atrás do prédio. No momento que a minha mãe deu as costas para caminhar para a farmácia, eu corri, mas corri, mas corri, corri para deixar o Asafa Powell no chinelo. Cheguei em casa, me traquei no quarto e fui pra deibaixo da cama. Algum tempo depois a minha mãe chegou furiosa porque eu tinha fugido. E lá do quanto eu dizia: "Nunca mais vou sair desse quarto". Depois de muito tempo debaixo da cama, eu fiquei pensando: "E a escola?", "E quando eu ficar grande?", "Eu nunca mais vou brincar na rua"... esssas perguntas fundamentais na existência da pessoa. Mas minha mãe me fez responder tudo. Na segunda-feira, 1º de março, teve grito, outras crianças e muitas mães, mas não era a minha festa de aniversário não, era eu de volta ao posto de saúde recebendo uma bela benzetacil de presente. 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Sonhar III - Uuuuui



Depois de várias perguntas técnicas, o entrevistador me falou: "Agora, posso te fazer uma pergunta apenas por curiosidade? Aquele cara com você no seu perfil do gmail é o Neil deGrasse Tyson?" Sorri. Sim, é ele sim e tenho uma história sobre essa foto. 

Antes de voltar para o Brasil, eu tinha que escolher a última cidade para conhecer. Não tive dúvidas. Eu tinha que ir na Big Apple. Não por causa da Estátua da Liberdade ou por outra coisa senão visitar o Hayden Planetarium, lugar que o meu amado, idolatrado salve salve Neil deGrasse Tyson trabalha. Então arrumei as malas, esqueci meu DS em casa e fui para a lindíssima NYC com um grupo muito especial de amigas. Chegando lá, fomos visitar todos os lugares que queríamos ir juntas. Mas eu estava certa de ir no Haydem Planetarium embora isso não parecesse uma programação legal para as minhas amigas. Então decidimos criar o "Dia do Tudo Pode". Seria um dia que cada uma iria sozinha visitar algo que gostaria de conhecer, mas que as outras não queriam ir haha. No meu coração, sempre alimentei o sonho de conhecer o Dr. Tyson. Então, inocentemente eu pensei: "Sexta ele provavelmente não estará lá, muito menos no final de semana, segunda-feira é feriado nos EUA, então vou apostar na terça." Pois bem, terça-feira foi meu dia do tudo pode. Acordei, me arrumei, e parti para o American Museum of Natural History (que se você quiser, pode pagar 1 dólar para entrar). Comprei o ticket para entrar no planetario. Subi para o andar do elevador de entrada, tirei várias selfies para postar com uma legenda tipo "Uuuuui, ela tá no Hayden Planetarium". Ficaram horríveis. Fui para a fila da entrada do elevador, entreguei meu ticket para que uma parte dele fosse destacada, e fui para frente do elevador. O elevador ao lado fez aquele barulho avisando que iria parar. Olhei. Eis que surge um homem alto, negro, com uma voz muito familiar. Era ele. Eu estava de frente com o Dr. Neil deGrasse Tyson. Meu coração veio para a minha boca, meus olhos se encheram de lágrimas (pra variar). Eu tinha que falar com ele. Então eu virei para a mulher que coordenada a fila e perguntei: 
- Posso sair da fila e voltar depois? Preciso falar com o Dr. Tyson. 
Aí ela me olhou de cima a baixo e disse:  
- Não.
- Mas moça, é meu sonho falar com ele e ter uma foto com ele, por favor.
- Não, se você quiser, depois da apresentação, você vai procura-lo por aí. 
Me zanguei. Levantei a faixa que separava a fila, corri, corri , corri e quando eu finalmente o alcancei, esqueci as regras da educação americana, e fui logo tocando no braço dele, quase sem poder falar.  
- Doctor... doctor... Could you please take a picture with me? 
Ele olhou para mim e sorriu: 
- Calma, calma, respire fundo. Está tuuuuudo bem! 
Aí foi que eu chorei. Ele perguntou de onde eu era, em  que parte do Brasil eu morava. E eu no céu. Eu disse : Dr, eu te admiro demais, você me inspira muito. Eu vim para NYC apenas para conhecer esse planetário. Hoje eu realizei um sonho (Apesar de eu ter morrido de pena de Plutão ter saído da lista de planetas do Sistema Solar por causa dele). 
Ouvi um "Oh my Gosh, she's from Brazil" de uma moça que estava o acompanhando.
Ele carinhosamente falou: Então vamos tirar essa foto! A moça que estava com ele nos fotografou. 
E o resultado foi esse aí em cima. Sorriso e olhos cheios de lágrimas. 
Depois de tremer, chorar, e pessoas virem me perguntar "Quem é esse homem? Por que você está chorando?" eu fui para a fila da entrada do planetario de novo - Ok, eu tinha uma foto com o cara, mas tinha dado 26 obamas para entrar naquele lugar - então eu entreguei o ticket já destacado para o rapaz da entrada e falei:
- Não sei se você lembra, mas eu estive aqui alguns minutos atras e você já destacoou meu ticket. Mas eu tive que sair da fila para tirar uma foto com o Dr. Tyson. Posso entrar mesmo assim?  
Ele me olhou com uma cara de descrença e falou: 
- Se você me mostrar a foto, eu acredito em você. 
Peguei a máquina tremendo demais, quase não conseguia segura-la. Quando o rapaz pegou a máquina, ele perguntou: "Você tá tremendo toda porque viu ele?" e  eu entre lágrimas : "Sim... ".  Ele balançou a cabeça e disse: "Então entra moça, entra logo! OMG, ela tá tremendo toda." 
Resolvi parar de chorar. Entrei no planetário. Sente e olhei para a abóbada e esperei a apresentação começar. Quando eu finalmente parei de chorar, a apresentação começou. E qual foi a primeira imagem e assunto que apareceu? A antena de New Jersey. Uma belíssima narração do Dr Tyson falando da importância dessa antena. Aquela mesmo que eu contei em outra história aqui. Comecei a chorar novamente. Estava tudo interligado. Aquele dia era realmente o Dia do Tudo Pode e meu Dia do Tudo Posso.

domingo, 10 de agosto de 2014

Sonhar II - A viagem

Depois de ter perdido meu passaporte e minha passagem de avião na Cidade do México, no México (dã), quase ter perdido um  vôo para outro país por causa de uma impressão, e por pouco ter ficado na Irlanda porque o sistema do aeroporto de Dublin dizia que meu visto estava ilegal, ficou mais que constatado que eu tenho problemas com aviões.  Eu contei todas essas histórias para um amigo aqui de Tempe e ele ficou surpreso. Quando eu recebi a notícia de que eu precisaria viajar para outro estado para fazer um projeto de pesquisa, eu só pensei em ir de ônibus. Porém, eu recebi o dinheiro destinado à compra das passagens muito em cima da hora. Então tive que comprar uma maldita passagem de avião. Sabendo disso, meu amigo falou: "Marcela, dessa vez você não vai ter problema. Eu vou te ajudar e você vai pegar esse vôo com toda tranquilidade". Fiquei aliviada por saber que alguém ia me ajudar. Meu vôo estava marcardo para as 6 da manhã do domingo mas não daria tempo eu ir no primeiro trem do domingo. Então decidi pegar o último trem do sábado e ficar no aeroporto até de manhã. Parecia o plano perfeito. 
No dia da tal viagem, eu arrumei minhas malas, chorei porque ia ficar longe dos meus amigos, fiquei abraçada com as minhas blusas da ASU, já sentindo saudade. Depois fiquei em estado de choque quando a ficha caiu a respeito do que eu estava prestes a fazer. Postei mensagem no face, pintei o cabelo e arrumei meu quarto. Faltando 15 minutos para o último trem passar, meu amigo fala comigo: "Marcelaaaaa, vamoooosss!!!". Concordei. Peguei minhas malas, descemos. Quando eu estava chegando na estação do trem, não sei como, o infeliz do trem apareceu na esquina. Corri. Corri. Passei no sinal vermelho para pedestre e comprei o ticket. Quando eu peguei o ticket da máquina, o trem simplesmente passou... e lá vai a Marcela ficar na estação. Comecei a xingar. O meu amigo ficou impressionado com como eu tinha azar mesmo. Ele tentou me acalmar e eu furiosa "Cara, aquele era o último trem!". Depois de eu chamar um táxi, eis que outro trem infeliz aparece na esquina. Aí meu amigo olhou pra mim com aquela cara de vitória "Eu não disse que tinha outro?". Eu com cara de alívio. Abracei meu amigo, entrei no trem. Para mim, eu tinha acabado de tirar 20 quilos das costas. Quando eu finalmente respirei aliviada, o trem para. Entram uns guardas e falam: "Essa é a última parada, todo mundo tem que sair do trem". Eu quis chorar. Lá estavam eu e minhas malas no meio da rua de madrugada. Eu não tinha ideia de onde eu estava. E todos os táxis que eu tentei chamar estavam indisponíveis. Começei a arrastar a mala e procurar algum lugar para usar como ponto de referência no caso de eu achar um táxi disponílvel. Depois de muito andar, um senhor parou o táxi dele e me perguntou: "Perdida?". Perdida não, meu senhor, azalada mesmo. Ainda não foi dessa vez que eu tive sorte em pegar avião. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sonhar I - A antena



Em 1964, Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a radiação cósmica de fundo que é considerada a maior prova do Big Bang e a descoberta mais importante depois daquela feita por Hubble sobre a expansão do universo. Aconteceu que um grupo de cientistas estava detectando um ruído muito forte nas ligações que eles faziam dos Estados Unidos para a Europa. Os cientistas ficaram se perguntando de onde aquela interferência vinha. Eles pensaram que era um problema técnico na antena causado pelo cocô dos pássaros. (haha). Depois da chacina dos coitados dos pássaros, o ruído continuou e eles começaram a aprofundar as pesquisas. Até que descobriram que aquele ruído era causado porque a antena que eles estavam usando captava os ecos deixandos pela explosão do Big Bang. Por conta disso, Penzias e Wilson ganharam o Nobel de Física. Mas como eu sei disso? Bem, eu li no meu livro do ensino médio. Eu vi a foto dos dois cientistas na frente da tal antena e achei aquela história maravilhosa. Essa antena existe até hoje, em Holmdel, uma cidade bem pequena em Nova Jersey.
 Eu estava fazendo um projeto em um estado próximo e pensei: chegou a minha vez de conhecer essa antena. Pois bem, quase 12 horas de viagem para Nova Jersey, mais 3 horas de ônibus e trem até chegar em Holmdel. Quando eu cheguei na cidade, eu tinha que pegar um táxi para ir até o local da antena. O problema era que eu não sabia se era permitido ir lá. Eu não achei táxi disponível. Já que eu já tinha passado 3 horas para chegar lá, eu decidi ir andando mesmo. Depois de andar por cerca de meia hora, eu cheguei numa rodovia e vi que a mesma estava interditada. Foi a decepção para mim. Eu estava tão perto da tal antena...Aí um policial veio falar comigo e eu expliquei para ele para onde eu queria ir. Ele falou que eu tinha que voltar tudo que eu tinha andado e pegar outro caminho porque por aquela rua estava impossível. Eu baixei a cabeça e falei que tinha tentado pegar um táxi mas não tinha dado certo. Aí ele gentilmente ligou para um táxi para mim e eu fui para a esquina esperar o táxi. Minutos depois ele foi lá é disse: “O que é mesmo essa antena hein?” Aí eu expliquei a coisa nerd toda. Ele olhou para a minha cara de entusiasmo explicando as coisas e disse “E tu veio para Nova Jersey, para essa cidade aqui, e estava andando esse tempo todo só para ver essa antena?” E eu disse “Sim, é um dos meus sonhos desde quando eu era adolescente”. Ele disse que nunca tinha ouvido falar dessa antena, mas já que eu estava tão empolgada, um amigo dele ia me levar lá. Aí enquanto eu esperava o amigo dele chegar, nós falamos sobre o Brasil, sobre as coisas legais em USA, muito legal mesmo. Depois de uns minutos, o outro policial chegou. Eu expliquei para ele e ele ficou tocado com a minha empolgação. Aí ele disse: “Ok, aquilo é uma propriedade privada, é proibido entrar, mas vamos testar, quem sabe você consegue umas fotos lá”. Entrei no carro. Coração na mão. Quando eu avistei a antena, os meus olhos encheram-se de lágrimas. Eu desci do carro e vi uma placa sobre o Penzias e o Wilson. Eu chorei feito uma criança. Eu simplesmente não acreditava que aquele lugar era o lugar que eu tinha visto tantas vezes nos livros de Física. Aí depois de um silêncio, o policial falou: “Ei, tire quantas fotos você quiser, não se preocupe”. E Pronto. Meu dia estava completamente perfeito. Eu realizei o sonho de ver a Holmdel Horn Antenna. Depois eu disse que ele podia voltar para o serviço que eu ia andar para a estação de trem. Ele disse “Claro que não. Vamos voltar, vamos nos despedir do outro policial e eu vou te deixar na estação de trem. Não é todo dia que eu encontro uma brasileira que gosta tanto dessas coisas como você. Eu trabalho aqui há 15 anos e nunca tinha parado para ler essas placas. Nunca imaginei que isso podia ser tão importante para alguém. Eu estou muito feliz por estar participando desse momento tão importante para você. Muito legal fazer parte da sua ‘Big Bang Theory’. Sobe ali nas escadas, finge que você trabalha lá."Me realizei. Depois de admirar tudo o que queria. Ele me levou para dizer bye para o outro policial e me levou para a estação de trem. Ele ficou muito admirado com a minha história e falou que eu era muito brava. Se eu tivesse ido andando ou de táxi, eu não poderia entrar no local para ver a antena, mas no carro da polícia né.... outros 500. haha. A minha sorte é que eu sou apaixonada pela coisas e existem pessoas apaixonadas por ajudar :)  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Ser I

Quem mora no interior sabe como uma conversa se espalha e cresce. Alguma coisa acontece na praça as 3 horas da tarde, as 3:15 já chegou no Multirão, na Caixa D'água, no Mussu, e no Alto do Bode, mas claro, uma história diferente em cada lugar. Pois bem, depois de termos ganhado por dois anos seguidos a prova de ciência da Gincana nas Escolas, no terceiro ano estávamos sem ideias. Então depois de tentarmos o bom  e velho experimento da pilha com a batata inglesa resolvemos seguir uma sugestão. Tinham visto na Internet que em um feira de ciências alguns estudantes tinham colocado fogo nas mãos mas não se queimavam por conta de uma camada daquele tipo de sal azul que se coloca em piscina. Então pensamos "É esse mesmo". Compraram o sal azul e o álcool em gel. Fomos para o colégio para começar os experimentos. Depois de tentar umas cem vezes sem sucesso, eu disse: "Ok, vamos tentar mais um vez e depois vamos desistir". Enquanto eu me preparava -  lógico, eu era a pessoa que colocava fogo na própria  mão - o pessoal do grupo de dança chegou. Entre eles estava a minha amiga que perguntou se ela podia ficar na sala enquanto fazíamos os teste. Eu disse "Ok". Eu tinha lido na Internet que o tal sal azul é corrosivo, e se engerido em altas dosses pode matar. Mas estava tudo sob controle. Até que eu coloquei o fogo na mão, e depois de uns 6 segundos, minha mão começou a esquentar. Involuntariamente, eu sacodi a mão cheia de álcool em gel e sal azul e essa mistura se espalhou para todo lado na sala, mas o pior, uma porção saiu dentro do olho da minha amiga. Aí começou o desespero. Um gritaria. Ela reclamando de dor no olho e eu só pensando no pior. Ainda bem que o hospital é ao lado do colégio. Aí levaram ela para lá, o doutor deu um carão na gente, e ela ficou lá colocando soro no olho. Felizmente, não foi nada grave. Só que nesse meio tempo, algumas pessoas já tinham ido espiar  na porta do hospital para ver o que estava acontecendo. A conversa que chegou na praça era que ela tinha ficado cega, a conversa que chegou na rua dela foi que ela tinha perdido o olho, a conversa que chegou na casa dela era que o doutor dizia "Minha filha, olhe para cima" e ela levantava a cabeça e segurava um dos olhos com as mãos, levantando-o pra cima também.