"Dizem que os massai morrem quando são colocados na prisão, não imagino que essa situação um dia possa mudar", é a primeira frase do filme A massai branca (The white massai), filme baseado na história real de uma escritora suíça que largou tudo que tinha na Europa por uma paixão,um guerreiro massai, e foi morar com ele no deserto. O filme é maravilhoso, e conta justamente tudo que ela passou morando em um deserto no Quênia. Lembro que quando eu era adolescente, uma amiga me falou: "Marcela, achei um filme a tua cara, tu tem que assistir". Assiti. De fato, eu tinha que assitir. Eu fiquei muito encantada com as cores e as vestes do povo massai. Mais encantada ainda fiquei com a África e suas tradições milenares, seus povos ricos de culturas diversas e muito, muito curiosa a respeito do que aconteceu de fato com esse casal. Nascia alí uma paixão bem escondidinha por aquela história. Passei dias pesquisando sobre os massai, sobre a história real da escritora suíça e o que acontecera com os envolvidos na vida real. Fiquei fascinada.
2015, São Paulo. Eu e uma amiga estávamos descendo pela escada rolante do hotel onde estávamos participando de um evento. Olho para o lugar que queríamos ir e vi um ponto de luz. Uma pessoa que brilhava estranhamente e não entendi porque. Nos aproximamos da menina que lia algo muito concentrada. Nos apresentamos, trocamos sorrisos, e ela nos fala gentilmente: Sou do Quênia, uma das finalistas da premiação. Era nossa mais nova amiga-inimiga. Passamos dois dias nos encontrando por lá, falando de trabalho, cidades, projetos.
No final desse evento, teve uma premiação. No entanto, antes, teve um ensaio. Quando entramos no auditório, de longe vi a moça do Quênia vestindo uma tecido lindo, vermelho e preto, que se fazia de túnica em volta do seu corpo pequeno mas ainda muito brilhante. Fomos falar com ela e elogiar a vestimenta, então ela com o mesmo sorriso acolhedor falou: é um tecido massai. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sentei, pensei, lembrei. E muito emocionada pedi a ela que me deixasse vestir aquele tecido apenas para tirar uma foto e toca-lo com mais calma. Quando o vesti, o toquei, eu senti algo muito diferente do que tinha sentido a vida toda. Eu estava com tecido massai feito numa tribo no Quênia e parecia que eu estava esperando aquele dia chegar a muito tempo, sem saber, mas eu esperava.
Horas depois, veio a premiação oficial. A moça do Quênia, em seu vestido massai, chorava agradecendo o prêmio, e eu chorava pela oportunidade de ver tudo aquilo acontecendo na minha frente, quase em câmera lenta.
No fim, inesperadamente, eu e minha amiga recebemos a notícia que teríamos um prêmio também e que vamos para Nairobi, no Quênia. A minha reação foi de espanto. A surpresa nos fez vibrar por horas. Foi aí que eu entendi, que aquela paixãozinha que eu senti quando adolescente era apenas a preparação para um momento maravilhoso que acontecerá na minha vida. Estava tudo certo, tudo me esperando e todas as coisas que eu passei até hoje estavam sempre me preparando para fortes emoções.
Guardei o olhar daquela moça e seu sorriso me vem a mente toda vez que olho os brincos que ela me deu da mesma cor do tecido que ela estava vestindo. A única exigência que ela fez foi que eu usasse os brincos quando for encontra-la no Quênia. E quero muito ir para finalmente dar vazão a uma paixão que sempre esteve guardadinha no fundo do meu coração.
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