Faltar energia no interior antigamente era muito comum. Em toda casa se achavam velas, lampiões e lamparinas. Ainda lembro os meus pais falando coisas como "Ah, isso é coisa do Paulo e do Afonso brigando" quando faltava energia. Coisa que só fui entender bem mais tarde quando aprendi sobre as usinas em Paulo Afonso. Quando faltava energia, a minha mãe ia na cozinha, abria o guarda-louça velho e tirava as velas. Quando não tinha, meu pai mandava um de nós subir a rua no escuro para ir comprar velas no Seu Joaquim.
Um dia, meu pai muito prevenido mandou eu ir comprar velas. Me deu 1 real. Lá fui eu, 7 ou 8 anos descendo a rua para comprar velas. Fui no Edsilson, 8 velhas, 1 Real. Fui no Lásaro. Peguei um maço de velas e perguntei: "Quanto é esse maço de velas?" O Lásarou olhou para a minha pequena mão segurando as velas e disse "1Real". Eu olhei para a embalagem das velas, não sabia ler muito mas eu entendi muito bem "Contém 8 velas". Então eu perguntei: "Quanto é uma vela?", ele disse "10 centavos". Fiquei confusa. Eu perguntei "Quanto é esse maço de velas com 8 velas?". Ele disse, quase sem graça "1 real". Aí só para confirmar eu perguntei o preço da vela novamente, e ele impacientemente respondeu "10 centavos", mas percebendo que o preço realmente não fazia sentido. Quando eu vi que não tinha jeito, me estiquei toda para que a minha mão com o dinheiro alcançasse o outro lado do balcão para poder pagar pelas vela. Quando eu coloquei o dinheiro na mão do Lásaro, ele pegou duas moedas de 10 centavos, olhou pra mim sorridente e disse "Ah, o maço de velas custa 80 centavos".
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