Existe uma lei que obriga o uso de cadeirinhas para crianças nos carros. Tem toda uma formalidade: altura, idade, tamanho. No entanto, muito antes disso, eu usava um meio de transporte muito comum no interior: o bom e velho jumento. Sim, o jumento. Nada de leis nem cadeiras, apenas um caçuá* bem aprumado e lá estava o perfeito carrinho de bebê. A criança era enrolada e colocada dentro do caçuar, ficava meio em pé e ia curtindo a paisagem no sobe e desce do andado do jumentinho.
Uma vez, minha família estava voltando da casa dos meus avós, no pé da serra. Nessa época, eu tinha uns 4 anos. Minha mãe me colocou no caçuá e do outro lado colocou várias cestas de beijus** - que NÃO é a mesma coisa de tapioca. O jumento seguia sua viagem feliz subindo a íngreme serra. Na verdade, eu tenho pena hoje. Coitado. No entanto, no meio da viagem, nós avistamos uma manada. Apesar de a minha família morar em um sítio, o pânico tomou conta de nós inclusive do jumento. Lá foi o bicho se estrebuchando e caindo no chão - e eu junto. Lá foi rolando no chão menina, beiju, rapadura, milho, feijão. A desgraça fez-se. Até que os bois passaram e minha mãe veio me segurar pois eu não parava de chorar, do susto claro, pois protegida pelo caçuá, saí sem nenhum arranhão.
* caçuá
** beiju